Carioca de 45 anos, Tiago Santiago é o autor de telenovelas de grande sucesso, como “Caminhos do Coração” e “Os Mutantes”, ambas da “Rede Record”. Com mais de três décadas de teledramaturgia, Santiago começou como ator de teatro e estreou na televisão em 1982, nos programas “Caso Verdade” e “Quarta Nobre”, da “Rede Globo”. A primeira experiência como autor foi com a peça “A Fonte da Eterna Juventude”, no Rio de Janeiro. Na “Record”, escreveu a nova versão de “A Escrava Isaura”, a novela “Prova de Amor”, e foi supervisor de “Bicho do Mato”.Para Santiago – que também é autor do romance “Francisco”, transformado em peça teatral, e do roteiro para cinema premiado pelo Ministério da Cultura, o ainda inédito “Aventuras de Caramuru” – o gênero telenovela está longe de se tornar desgastado.
1 – Você esperava que as telenovelas “Caminhos do Coração” e “Os Mutantes” fossem ter tanto sucesso?
Mitos e lendas, com criaturas superpoderosas, fazem parte da fantasia de todos os povos e várias telenovelas de realismo fantástico foram bem-sucedidas. Por isso, tinha certeza que “Caminhos do Coração” faria sucesso. Mas a estréia de “Os Mutantes” em novo horário superou as minhas expectativas. Agora acredito que temos chance de disputar o primeiro lugar de audiência.
2 – É verdade que, sabendo dessa possibilidade, você criou uma personagem para ir ao ar quando “Os Mutantes” alcançar a liderança no Ibope?
É uma brincadeira, mas, se atingirmos a liderança, colocaremos a Mulher Zebra no ar. Ela ainda não está escrita, mas imagino que a briga no Ibope vai se intensificar e que a “Record” pode ser a primeira emissora do País em audiência. Nosso crescimento e a queda da concorrente provam que fazemos um trabalho superior. No entanto, precisamos aumentar o número de produções.
3 – “Caminhos do Coração” é mesmo vista só por crianças de menos de 10 anos e pelas classes D e E, como algumas críticas mencionaram?
Há uma pesquisa que mostra que somos vistos por todas as classes sociais, com grande concentração na classe C. As classes A e B assistem tanto quanto as D e E.
4 – Mesmo com a concorrência, houve troca de elogios no ar entre você e Aguinaldo Silva, autor de “Duas Caras” (“Globo”). Como foi isso?
Escrevi uma minissérie e um especial na “Globo” com o Aguinaldo, nunca exibidos. Ficou uma relação de carinho, admiração e respeito. Fiquei surpreso quando ele colocou em “Duas Caras” uma referência aos mutantes em homenagem ao sucesso da minha novela. Respondi, em “Os Mutantes”, que oPachola (André Mattos) “mora em Paraisópolis, mas tem saudades da Portelinha”.
5 – O formato adotado pelas telenovelas brasileiras está desgastado?
A telenovela não demonstra sinal de desgaste. Ao contrário, o número de novelas no ar cresce a cada ano e a tendência é que outras emissoras invistam em teledramaturgia. As vendas de novelas mundo afora são um modo de exportar nossa cultura.
6 – Existe uma nova geração de autores de novelas no Brasil?
É natural que um produto que é a paixão de milhões de pessoas e que é um mercado bem remunerado atraia muita gente. A maior prova de que há novas pessoas escrevendo novelas é que, atualmente, há a concorrência no horário nobre, entre um autor de 38 anos e outro de 45, o João Emanuel Carneiro (autor de “A Favorita”, da “Globo”) e eu. Depois de nós, com certeza virão outros.
7 – Você foi um dos idealizadores do concurso de novos autores da“Record”. O projeto ainda existe?
Pretendem realizar oficinas de autores?Nós temos a intenção de promover, ainda este ano, o primeiro seminário de novos autores da “Record”, para o qual devemos contar com 70 autores que ganharam menção honrosa no primeiro concurso e outros convidados, para fomentar a criação de projetos para a emissora
8 – Como foi o desentendimento entre você e Lauro César Muniz?
Desde 2004, sou consultor de novelas da “Record”, com a função de analisar o que deverá ser produzido pelo núcleo de teledramaturgia e incentivar a vinda de autores para a emissora. Nessa função, intermediei a vinda de, entre outros, Lauro César Muniz, que fez a novela “Cidadão Brasileiro” (exibida em 2006). Quando a novela “Vendetta” foi apresentada, eu tinha a obrigação de dar um parecer. Parte da imprensa tentou jogar um contra o outro, mas eu estava só prestando meu serviço, visando fatores que possam levar a novela a ser um grande sucesso.
9 – Como foi a entrada na “Record”, no momento em que a emissora começava a apostar em novelas?
Em 2004, Herval Rossano, com quem trabalhei no “Você Decide”, me convidou para ir para a “Record”. Tinha oferta para continuar por mais quatro anos na concorrente, mas sem a garantia de me tornar autor titular. E vislumbrei a possibilidade de fazer sucesso com “Escrava Isaura”. Foi sorte que a “Globo” não tenha feito esse remake, pois inviabilizaria o projeto que deu partida ao bem-sucedido núcleo de teledramaturgia da “Record”.
10 – Em algum momento você se sentiu desvalorizado na “Globo”?
Comecei a trabalhar na “Globo” em 1982 como ator (na novela “Livre Para Voar”) e, em 1990, como autor. Foram 14 anos em que fui coordenador do “Você Decide”, implantei o programa “Linha Direta” e colaborei em “Vamp” e “Uga Uga”. Achava que merecia ser autor titular, mas essa chance não me foi dada. Foi com esse objetivo que eu vim para a “Record”.
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